terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Textos para o 3º ano (Lipovetsky)

Amor, afeto, relações...

A hipermodernidade em Gilles Lipovetsky


Gilles Lipovetsky, com seu conceito de hipermodernismo, ultrapassa o conceito de pós-modernismo, como ele mesmo explica. O pós-modernismo é caracterizado como uma extensão da modernidade, tudo o que nasceu nela chegou até nós, pós-modernos, de forma um pouco exagerada; ele define assim a pós-modernidade:“o fim das ideologias, o surgimento de uma nova cultura hedonista, o destino da comunicação e do consumo de massa, o psicologismo, o culto do corpo. Todas essas realidades mostravam que havia um novo capitalismo e também um novo tempo da vida democrática.”[1]

Mas de acordo com o filósofo sua descrição não estava errada, e sim a nomenclatura que usava. Pois não se tratava apenas de uma pós-modernidade, no sentido de que esta é apenas uma extensão do que já se vivia, porém se vivia em outra modernidade. Diz Lipovetsky: “a modernidade passou para uma velocidade superior em que tudo hoje parece ser levado ao excesso: são os hipermercados, o hiperterrorismo, as hiperpotências, o hipertexto, hiperclasses, enfim, o hipercapitalismo.”[2] Não se trata de uma extensão ou uma continuação, trata-se sim de uma acentuação da modernidade, por isso: hipermodernidade. Onde “a modernização é desenfreada, feita de mercantilização proliferativa, de desregulamentação econômica, de ímpeto técnico-científico, cujos efeitos são tão carregados de perigos quanto de promessas.” [3] A hipermodernização é um exagero dos valores modernos, onde há um desequilíbrio sempre para mais e não para menos.

Ele diz que os campos da sociedade: tecnologia, moda, mídia, economia e, sobretudo, o indivíduo, estão passando por um processo de excessos, onde a exarcebação tem tomado papel principal. Comecemos então pelo indivíduo. A individualidade que nasce na modernidade, recebe uma carga maior hoje através da internet, por exemplo: “Graças às novas tecnologias, os indivíduos passaram a ter um uso do seu tempo de forma diferenciada, inclusive contribuindo para a dispersão dentro da própria família.” O tempo se individualizou, quase não há mais o compartilhamento de vidas, a personalidade recebeu um valor excessivo, logo, estamos falando de uma hiperindividualidade, onde cada um depende menos do coletivo e se importa menos com o outro, sendo assim há um caminho para a fragilidade, uma tendência à depressão, uma vulnerabilidade maior ao suicídio, os conflitos internos se acentuam e o medo que o individualismo exagerado traz, impede de pedir ajuda. Há cada vez mais dificuldade em lidar com o semelhante, o individualismo sempre pede seu espaço. No fim nos tornamos sós, onde o outro é praticamente inexpressivo.

O filósofo também chama a atenção para o culto ao corpo, onde assistimos a idéias de beleza, de físico, de cabelos, de estilo; uma repulsa à velhice, pois o ideal é ser jovem e sem rugas. Há uma moda que não se restringe apenas ao corpo, mas a casas, carros, viagens, lazer; há um ideal diferente para cada classe social, onde o importante é corresponder para não estar fora do padrão. As liberdades são suprimidas, visto que há modelos, e ao mesmo tempo há uma ode à liberdade, visto que há incentivo da hiperindividualidade, estamos num grande paradoxo, o que Lipovetsky define como característico de nosso tempo, e isto aponta para uma possibilidade de equilíbrio, onde apesar dos excessos os indivíduos não correspondem tanto ao mercado como se imagina: “Estamos em uma sociedade paradoxal e acho que devemos tomar cuidado para não unificar demais as coisas, pois de um lado há um excesso de modernidade, mas no sentido da oferta, pois a demanda tem sim dimensões de excesso, mas também de moderação e de uma espécie de reequilíbrio.”

Lipovetsky conclui que, apesar de tantos exageros o ser humano não está completamente perdido, ele ainda possui uma moral e uma ética, no sentido de que ainda sabe qual é o seu limite; não se trata de uma moral esmagadora onde pessoas são sacrificadas, mas moral no que tange à consciência, onde o indivíduo ainda consegue reconhecer até onde pode ir sem excessos, sem violentar a si mesmo.



[1] LIPOVETSKY, Gilles. Somos hipermodernos. Disponível em: http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/cibercidades/lipovetsky.pdf. Data de acesso: 13/11/2011. p.1

[2] Ibidem, p.2

[3] LIPOVETSKY, Gilles. CHARLES, Sebastien. Os tempos hipermodernos. Mario Villela. Ed. Barcarolla: São Paulo. p.2

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